VGIR11: O Segundo Lugar Que Rende Como Primeiro
Fundo de papel que fica em segundo lugar não sobe no pódio. Mas pode dar muito dinheiro.
Olá, FIIo(a)!
Em fevereiro, o VGIR11 quase chegou lá. Ficou em segundo lugar na categoria de Melhor FII de Papel no Prêmio Outliers do InfoMoney. O primeiro? O queridinho do mercado, o KNCR11 (Leia mais sobre ele aqui).
E veja só: o VGIR11 também aparece lá embaixo no meu ranking TOP 25 de carteiras recomendadas de bancos e corretoras.
Apenas cinco votos. Um a menos e teria ficado na lanterna do ranking. Um a menos e seria ignorado como panfleto de pizzaria na porta de casa.
Isso é o que acontece com o segundo...
Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
Mas como veremos adiante nesta crônica, o VGIR11 bate o retorno do KNCR11. Então, por que ninguém está elegendo ele como número um?
Talvez porque o VGIR11 é um fundo com cicatriz, risco e personalidade. Faz empréstimo para o setor residencial, carrega CRI sem rating, tem alavancagem e cobra taxas gordas como rodízio de domingo.
E no Brasil? Você quer o quê? Beleza ou rendimento?
Vamos destrinchar o perfil desse vice-campeão ignorado...
O fundo VGIR11 iniciou suas atividades em 27 de julho de 2018, com uma captação de R$40 milhões e apenas 143 cotistas.
Em 9 de setembro de 2022, as cotas do fundo passaram por um desdobramento, na proporção de 10 novas cotas para cada 1. Isso atraiu o pequeno investidor, o tipo que gosta de ver dois dígitos no home broker.
Após oito emissões inflou seu valor patrimonial para R$ 1,4 bilhão e 251 mil investidores.
E onde o VGIR11 enfia esse dinheiro? Em residencial. Muito. Uns 77% da carteira.
Fonte: Relatório VGIR11 – Abril de 2025
E tudo isso 100% amarrado no CDI, a corrente que hoje puxa os fundos para cima.
Fonte: Relatório VGIR11 – Abril de 2025
Tem alavancagem também: o fundo tem um total de R$107 milhões, ou 7,61% do Patrimônio Líquido (PL), em operações de venda e recompra futura de CRIs (compromissada reversa).
Essencialmente, o fundo vende CRIs com um acordo para comprá-los de volta em uma data futura, o que lhe permite obter caixa enquanto mantém a exposição aos seus ativos de CRI.
Embora os relatórios anteriores não detalhem o início exato dessas operações, o relatório de dezembro de 2022 menciona que, ao final de março de 2022, o fundo já possuía "despesas de juros de operações de exercício de compromisso de recompra de CRIs" com um custo médio de CDI + 0,8% ao ano.
Em 22 de abril deste ano, os mandachuvas da Valora, Daniel Pegorini e Alessandro Vedrossi, deram entrevista ao Infomoney.
Daniel Pegorini explicou a lógica da Valora em seus fundos de crédito: buscam credores de “Second tier” (em linguagem de não financistas, devedores menos confiáveis, como mostra a alta proporção de ativos sem rating).
Fonte: Relatório VGIR11 – Abril de 2025
Mas por causa do momento, a gestora está avesso a risco. Eles concedem crédito entre CDI+ 3% e 6%. Mas agora está mais para 3% do que para 6%, como explicou Vedrossi:
“O VGIR11 tem duration curto, com necessidade de originação rápida. Historicamente entrega CDI + 3,5%. Mas atualmente está entregando 2,80% líquido. Porque as novas operações estão focando no mais 3% a 4%. Estamos mais avessos a risco, mas vai ter muita oportunidade no momento de estresse.”
Então fica o alerta: se os gestores da Valora estão, de fato, recuando no risco e aceitando taxas menores — entre CDI+3% e CDI+4% — isso pode ser um prenúncio de dividendos mais magros no futuro.
As novas operações, mais conservadoras, podem puxar a média para baixo. Ou seja: se o crédito ficar menos apimentado, o dividendo pode perder o tempero nos próximos meses.
Enquanto a gestão diminui as taxas e espera as oportunidades de estresse... Que analistas gostam do fundo? E recomendam por quais motivos?
Cinco casas gostam, entre elas o BB e a Toro.
A Toro diz que ama, pois o portfólio é pulverizado, tem carrego interessante com prêmio acima do CDI e nível de risco de crédito controlável.
E ainda sugere: preço máximo de entrada: R$9,75
O BB indica também o bom carrego...
“Apesar do pouco desconto frente ao Valor Patrimonial, o VGIR11 vem viabilizando o pagamento de um DY superior a 1,0% ao mês e, caso não haja nenhum evento adicional de inadimplência, deve manter o patamar de dividendos elevados considerando o patamar de juros à frente.”
Mas alerta:
“O carrego interessante é acompanhado de um certo nível de risco. O portfólio atual conta com 77% das originações do segmento residencial, historicamente mais impactado com alta de juros, sendo que a maior parte dos papéis não possui rating e boa parte (66,2%) possui LTV acima de 60% ou não possuem garantias, ou seja, o saldo devedor desses CRIs compromete ou supera os valores das garantias envolvidas.”
É o tipo de relacionamento que precisa de confiança e monitoramento semanal no WhatsApp.
Depois dos alertas do BB, vamos às polêmicas...
A maior crítica dos torcedores de FIIs é que as taxas do VGIR11 são pesadas desde o início do fundo.
Embora o crescimento do fundo tenha diluído o custo das taxas por cotista, as taxas de gestão, performance, administração e escrituração representam despesas que são descontadas do patrimônio do fundo, impactando diretamente o retorno para o investidor.
Vejamos o menu de taxas, um buffet completo servido mensalmente, em que a gestão come antes de você:
Taxa de Gestão: 0,80% ao ano sobre o patrimônio líquido do Fundo.
Taxa de Performance: 20% sobre o que exceder o CDI
Taxa de Administração: 0,20% ao ano sobre o patrimônio líquido do Fundo.
Taxa de Escrituração: Equivalente a R$1,40 mensais por cotista, mas limitado a 0,06% ao ano sobre o patrimônio líquido
Mas e o seu par e algoz KNCR11, quanto cobra?
A Kinea cobra 1% de taxa de administração. Só, não há taxa de performance. Afinal cobrar taxa de performance de fundo que é CDI, por bater o CDI, é meio esquisito né?
Mas e outra crítica dos torcedores nos fóruns, a concentração dos CRIs?
As pessoas reclamam da concentração na empresa Helbor, representando 17% do PL. Mas já em dezembro de 2019 esse CRIs da empresa começaram a aparecer na carteira. A relação é antiga.
É uma importante concentração de fato, o que exige analisar a empresa, que inclusive é listada em bolsa (HBOR3). Dando uma olhada no relatório da empresa, dá para ver que eles estão focados em reduzir a alavancagem…
A companhia passou de 68% no primeiro trimestre de 2024, para os atuais 53%. Não dá para brincar com dívida no Brasil, especialmente atrelada à Selic.
Ok, falei de tudo, mas não sobre o amor verdadeiro... Como está o dividendo?
Como vimos, a taxa média do VGIR11 é mais alta comparada aos CDI+2,27% do KNCR11.
Para alavancar os ganhos, vimos que o VGIR11 tem 7% do PL em compromissadas, contra 9,3% do PL do KNCR11.
Empacote tudo isso e ficamos com os dividendos de 12 centavos em junho. Entrega mais do que o fetiche de 1% ao mês, ou quase 14% ao ano.
Fonte: Clube FII
Mas e a comparação de retorno total entre VGIR11 e KNCR11?
Fonte: Clube FII
O VGIR11 bate o competidor com 95% de retorno no período, contra 81% do KNCR11 e 44% do IPCA.
O que parece é que temos aqui é um VGIR11 que consegue melhores retornos buscando CRIs mais ousados do que o KNCR11 bunda na parede, uma baleia que joga seguro usando seus gigantescos R$ 7,7 Bilhões de patrimônio líquido.
Você paga mais pela gestão do VGIR11? Sim.
Você corre mais risco? Com certeza.
Você pode ganhar mais? Historicamente… sim.
Fica aqui ao seu gosto.
Se você gosta de emoção medida e dividendo com pimenta, o VGIR11 pode ser a escolha. Se quer estabilidade, previsibilidade e sono tranquilo, melhor passar longe.
No fim, não é só sobre retorno. É sobre perfil.
E saber quem você é como investidor vale mais que qualquer ranking ou eleição.
Um abraço,
André Zara
Publisher — Hórus Pub FII
P.S.: Mais uma vez, o governo sacou a faca da gaveta e ameaçou cortar os fundos imobiliários na tábua da tributação. O mercado tremeu, os grupos de WhatsApp ferveram, e o InfoMoney já preparou a 37ª manchete com a frase “agora vai ser tributado”.
Mas aqui entre nós: essa newsletter nem tem tanto tempo de vida, e já viu esse filme passar pelo menos uma vez. Leia aqui.
É tipo o Jason voltando do lago. Você se assusta, mas no fundo já sabe como acaba: com um susto e o vilão morto (mas pronto para voltar na próxima sequência).
Portanto, por enquanto, nada de chilique. Vamos sentar, respirar, e assistir a Brasília ser Brasília. Se a faca vier de verdade, a gente sangra junto, recalcula rota e segue o jogo 5% mais infelizes.